O que um cristão pode falar sobre "joão de Deus"?

   
Gostaria de ter escrito esse texto no tempo em que vivíamos a perplexidade sobre o caso do médium "João de Deus", pois foi esse caso que me despertou a reflexão, que na verdade ja vinha fazendo ao longo da caminhada. Vinha pensando sobre como essas coisas estão tão ligadas umas as outras, mesmo parecendo áreas distantes.
      A primeira coisa que eu conclui ao pensar sobre esses temas é que todas as relações humanas tem um grau maior ou menor de eroticidade, ou seja, eroticidade não é apenas relativo a sexo propriamente dito, um ato fisico, mas sim a expressões, gestos, acenos com uma carga de libido. A tal libido presente em nós, influencia  muitas das nossas expressões, visões, e estilo. A testoterona no caso do homem, e a progesteroma no caso da mulher em grandíssima parte molda caráter, influencia nossa postura e atitudes. Freud contribuiu muito sobre isso. Não que eu concorde com ele em tudo, até porque ele partia de uma visão que não considera Deus, mas ele esbarra muito bem na verdade quanto a esta análise que ele faz do humano e suas pulsões eróticas.
      A segunda coisa a ser dita ainda sobre o "eros" é que uma realização sexual concreta e boa é essencial para o equilíbrio, crescimento, e desenvolvimento humano, negar isso é perigoso, subestimar a importância da sexualidade para o ser humano é o caminho para a infelicidade e desgraças humanas de toda ordem.
     Concluo também que "religião" (no sentido de religar com Deus) é também algo que faz parte da constituição do homem, tão essencial quanto o coração é para o funcionamento do corpo, a religião é para o humano, como um verdadeiro órgão, sem o qual você morre. Negar o divino e o transcendente é a verdadeira morte e o mundo está experimentando isso no secularismo/humanismo. Não existe sanidade fora de Deus, apenas loucura. 
      Este último, o poder, seja financeiro, político, ou religioso, como é o caso que me inspirou nesse texto,  é o que mais gostamos, ou seja, tendo a pensar que gostamos em geral mais de poder do que sexo. O tesão de influenciar, de ser alguma referência, o prazer de ser ouvido, respeitado, e muitas vezes temido, é bem maior do que o prazer sexual. Isso são teorias minhas, não estou baseado estatísticamente para afirmar.
       O caso em tela (os abusos praticados pelo médium João de Deus) apesar de nos entristecer e nos colocar em perplexidade, não me choca tanto pelo fato de que estes elementos que citei fazem parte da natureza dessas relações. Historicamente, desde sempre, a mulher sempre foi mais religiosa que nós homens, elas que sempre oraram por nós, elas que sempre pedem pelos filhos, elas que sofrem maior vulnerabilidade social, emocional, e existencial. Salvo alguns poucos casos, todas as maiores lideranças de todas as religiões são masculinas, os mártires, os personagens bíblicos principais, os fundadores das religiões são homens. Para o bem ou para o mal, o ser masculino esteve sempre em maior posicionamento de poder econômico, força física, político, etc. Não há como negar que em tudo isso está envolvido um forte componente erótico.
       Todo o ambiente religioso, cristão ou não, que se baseie no poder de um homem só, protagonista, que detém ele sozinho a cura, a revelação, a mensagem, deve ser evitado por todos, principalmente por mulheres vulneráveis e desprotegidas, pois as chances de existir todo o tipo de abuso, principalmente sexual, é muito grande. O poder faz com que o homem experimente a sensação de ser inatingível, intocável, invulnerável, e essa sensação é uma das mais entorpecentes que podem existir, e uma dos mais venenosas. A grande oferta que Satanás fez pra Adão foi a de ser igual a Deus, conhecer o bem e o mal, usurpar uma prerrogativa e poder Exclusivamente divinos, por isso digo poder é algo que não se deve brincar, mas vigiar, pois a linha do abuso é tênue.
       A lição do evangelho em jesus, é a de se despir do poder e dar a vida, Ele abriu mão da natureza e prerrogativa divina pra ser homem e servir sacrificando a vida. E os falsos poderes religiosos e políticos de sua Época se incomodaram a ponto de o submeterem a um julgamento e condenação de criminoso. No evangelho, nós devemos aproveitar o protagonismo, a proeminência, a hegemonia, para desaparecer, para servir, para usar de generosidade, e para considerar os outros em superioridade. Essa é a minha reflexão hoje, que continuemos a aprender a servir como jesus nos serviu.