Discrição: uma virtude perdida!


Não gosto de direcionar minhas reflexões para grupos específicos, separando por qualquer tipo de característica, mas hoje desejo me dirigir fazendo uma distinção de gênero, podendo assim refletir sobre questões do universo masculino. Quero tratar de algumas das qualidades que considero da maior importância para qualquer pessoa, mas especificamente do homem, ou de líderes eficazes e sábios, que buscam sair dos lugares comuns e partir para a profundidade.
     O homem deve buscar o anonimato, deve cultivar o ser discreto, e nenhuma dessas qualidades que quero tratar deve ser confundida com passividade, omissão, falta de iniciativa, pelo contrário, o homem que prefere o anonimato é reservado, prudente, e se preserva, justamente para que nos momentos em que discernir ser necessário uma intervenção sua, seja por atitudes, palavras, ou mesmo pelas não palavras, consiga ser eficaz e possa contribuir. Cada homem é como um rei, cujas palavras não voltam, cujas atitudes são sempre tomadas de maneira refletida, cujo silêncio também significa muito. Não cabe a um Rei aparecer sempre, não cabe a um rei abusar de seu posicionamento de liderança natural e cansar as pessoas com palavras, gestos, com a sua própria imagem, sendo vaidoso, não permitindo com que as pessoas de valor ao seu redor também demonstrem seu valor. Não existe um rei sem pessoas e sem um povo valoroso pra ser guiado, porém um rei muito interventor cansa.
     Homens são muito importantes para o processo da igreja local como um todo. A coisa mais triste que existe é ver homens que não tem nenhuma relevância no tecido da igreja, com isso não estou falando de homens tímidos, porque estes podem ser "Reis" dentro da igreja, sendo respeitados, fazendo diferença mesmo com um temperamento menos "barulhento". Falo de homens que apesar de espaçosos dentro do grupo social chamado "igreja", são pouco ou nada efetivos. Homens que fazem muita auto referência, fazem questão de serem notados por qualquer coisa, e querem estar sempre em evidência, temendo cair no esquecimento. Atitudes como essas revelam fraqueza, e também muitas vezes uma competitividade desnecessária, pois a igreja não é uma arena, ou um terreiro aonde um "galo" só manda, no grupo "igreja" a regra é a solidariedade e generosidade com os naturalmente menos visíveis.
     Dentro de qualquer grupo haverá indivíduos que se destacarão dentre a maioria, isso é super natural. Numa sociedade de guerreiros, por exemplo, as pessoas vão se destacar pelas habilidades de um guerreiro e pela coragem nas batalhas. Num grupo cuja regra é resultados financeiros o indíviduo que mais apresentar bons resultados numéricos com certeza será o cara mais destacado. Dentro da convivência na igreja já existe naturalmente uma proeminência natural e um posicionamento de destaque a homens, pois biblicamente é dado o governo dela a eles, e mesmo dentre estes se destacarão os que possuírem habilidades relacionadas a pregação, ensino, louvor, ou seja, aqueles tipo de atividades que os darão destaque e evidência, repito, isso é natural, no entanto aqueles que já tem um posicionamento natural de destaque no "grupo igreja" deve aproveitar para ainda mais imergir-se numa atitude de discrição, o mais anônima possível, aonde ele possa se "prudenciar", se reservar, e "sumir", preferindo sempre ficar na retaguarda das pessoas, ao invés de tanto aparecer que ninguém mais aguente olhar pra cara dele. É abusivo um homem que tem uma condição natural dada por Deus de protagonismo, ao invés de permitir que nossas irmãs mulheres, e também nossos irmãos menos "destacados" falem, intervenham, apareçam sem relevância alguma, tirando deles única oportunidade que eles tem de se sentirem mais parte do todo da igreja, e darem suas importantes contribuições, somando com seus dons e talentos, nem tão visíveis, mas igualmente fundamentais.           
      Esse tipo de percepção gera mais solidariedade e generosidade ao convívio, atenuando a sensação de crueldade que existe dentro de um processo em que naturalmente alguns obterão maior destaque que outros, sendo que estes outros são tão importantes do que esses poucos. Cabe a min, já que me entendo por homem líder, com um posicionamento natural, exercer influência da maneira mais anônima possível, proporcionando espaços a essas pessoas, fazendo com que todos sejam mais, que façam mais, e que elas façam por si mesmas e digam: " tudo aconteceu naturalmente". Isso é o "suportai-vos uns aos outros" que o Apóstolo Paulo narra em suas cartas, que também nos remete ao "preferir em honra uns aos outros", que também nos remete ao "considerai vós superiores uns aos outros". Acredito que todo o grupo que existir homens que entendam isso, serão fortes, eficazes, e grandes.

Que Deus nos ajude a ser assim.

Paulo Gustavo