A discussão sobre o suicídio ser ou não pecado, ou ser algo que leva uma pessoa a perder ou não a salvação, revela que o nosso protestantismo tem muito do catolicismo ainda. Nós ainda carregamos uma percepção catolicizada sobre pecado. Temos uma noção estereotipada de pecado, medieval, romana, que nos leva a analisar apenas uma atitude exterior, quando na verdade o pecado não é uma atitude exterior, não necessariamente, muito mais do que isso o pecado é uma atitude interior, ou seja, o "peso" de uma atitude "errada" se mede não pelo ato em si, mas pela motivação da pessoa que o pratica. Por isso não cabem cartilhas morais, listas de regras, dietas existenciais, não toco nisso, não manuseio aquilo, não como, não bebo, não fumo, respeito aquele ou esse feriado ou dia santo, não cabem sistematizações da vontade de Deus. A doce vontade de Deus se revela na caminhada do dia a dia em forma de bom senso, em forma de equilíbrio, de uma maneira sustentável e saudável e não de uma forma abstrata e fora da realidade de quem o pretende praticar. Aquele que oferecer o seu corpo como sacrifício vivo experimentará um renovo na sua mente e discernirá qual será a boa perfeita e agradável vontade de Deus.
Colocando em termos práticos eu compararia Saul e Davi. O primeiro pecou quando decidiu guardar os despojos de uma batalha, quando Deus dissera para não guardar nada, e ainda tentou comprar a Deus com sacrifícios daqueles despojos, como se Deus fosse subornável. O segundo pecou de maneira brutal quando tramou a morte de um homem leal a ele, sincero diante de Deus, para pegar a mulher de Urias para si, cometendo um homicídio e um adultério, ambos os crimes previstos em lei eram passíveis de pena de morte, mas quem provaria esses crimes? se não foi ele quem pegou uma arma contundente e desferiu golpes na vítima? e se ele a vítima apenas morreu em batalha, aonde ele teria errado em tomar a mulher viúva de seu marido, que era soldado, como sua esposa? ambos os casos revelam a depravação do homem, mas seja sincero, em termos de moralidade religiosa protestante evangélica quem pecou mais foi Davi, pois enquanto o pecado do outro não era nem pecado em si previsto pela lei, mas foi uma desobediência dentro de um relacionamento com Deus. Tenho certeza que a Igreja evangélica hoje é a Igreja dos "Saul" que prestam obediência exterior moralista, mas não a obediência sincera e de coração. Não teríamos lugar para Davi na nossa igreja e sim para Saul.
O que isso se aplica a questão do Suicídio? bom, as pessoas dizem que ele é pecado.. diante do que eu disse acima sobre perspectiva sobre pecado, há sentido nesse debate? a questão não é essa, a questão quem cometeu? foi um eleito? foi um pecador? se foi um eleito eu digo não vai ser o suicídio que vai tirar algo desse eleito, se foi um pecador, ficar vivo é a própria morte, se foi um pecador, tanto faz, ele iria para o inferno com ou sem suicídio.
Posso aferir objetivamente se uma pessoa é eleita ou não? não posso, por mais que tenha sido piedoso em vida ainda existe espaço para que estejamos enganados se afirmarmos que tal pessoa era salva.
Posso aferir objetivamente se uma pessoa não é eleita? não posso, por mais que tenha sido pecador, se em algum momento ele se arrepende, e existe espaço para isso, ele pode ser salvo, sem sermão, sem biblia, sem igreja, somente no seu íntimo.
Paulo Gustavo
Cara, realmente é impressionante o quão romanistas os evangélicos ainda são. Está impregnado.
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